- Ele morreu.
- Não pode.
- Como?
Coração - pensei.
- Um ônibus o atropelou na calçada.
- O motorista teve um mal súbito e desmaiou.
Desliguei a boca do fogão, enfiei meia dúzia de peças de roupa na mala e, mudo, fui para a rodoviária. Três horas depois estava no velório. Continuava mudo.
Este é o resumo do final da noite de terça-feira retrasada e do começo da madrugada de quarta. Ele em questão é um grande amigo da minha família. Estou para conhecer pessoa mais religiosa, daquelas que frequentava todos os dias a missa das 6h30min. Um grande sujeito.
Mas aonde quero chegar com esta conversa? Até esta noite não levava fé nas frases do tipo: é o destino ou Deus quis assim. Para mim o que acontecia com as pessoas era resultado da negligência, incompetência, mérito delas ou daquelas que cruzavam seu caminho. Nos últimos tempos encarava a vida como uma espécie de selva em que sempre precisava estar ligado em 220 Volts ou alguém passava por cima.
Mudei meu pensamento. Ainda acredito que a negligência, a incompetência e o mérito são fatores preponderantes para a maioria dos rumos que nossa vida segue. Mas, agora, acredito também em expressões como “é o destino”.
Ele estava na calçada. Na calçada! O condutor não foi imperito ou desajuizado. Simplesmente apagou sobre o volante, guiando o ônibus sobre painéis de publicidade, árvores e pessoas. Supondo que o motorista tivesse um problema de saúde que não foi constatado pela empresa, ainda assim é muita matemática. É mais simples acreditar em destino.
*Da série "Velhas Crônicas"
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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