quarta-feira, 21 de abril de 2010

A moral da minha mulher

Seguindo o debate sobre moral, meu caro. Quer um exemplo prático sobre como é difícil lidar com as diferenças de valores entre os sujeitos. Pois bem, ontem no final do expediente tive a infeliz ideia de tomar UMA cerveja com um colega de trabalho. Pensei cá com meus botões: não vou avisar a Lê. É só uma cerveja. Se eu avisar, ela vai me encher.

Mas nem bem havia esquentado a cadeia do bar e o destino me pregou uma peça. Toca o celular e eu:

- Fudeu - era minha muler.

Bem, fiz o que qualquer homem macho com juízo, casado com uma mulher facão sem cabo, faria: menti. Levantei da cadeira e procurei um lugarzinho bem calmo pra mentir.

- Oi, Lê. Estou saindo agora do jornal e vou tomar uma cerveja com o Paulinho. Não quer chegar aqui no bar ao lado do jornal?

Ela:

- Está saindo agora!? Pois eu estou te vendo há uns bons minutos parado aí no boteco. Seu mentiroso, @*XJSJDJDjh, ISUI*&@%$X...

Viram! Para mim uma mentirinha não tem o peso que tem para a minha mulher facão sem cabo. São por estas diferenças e pela intolerância diante delas que as guerras acontecem!

Por Ermilo Drews

Ética, moral e Jornalismo

"Talvez um olhar retrospectivo nos mais de dois mil anos passados na inútil tentativa de encontrar um fundamento sólido para a moral nos leve a pensar que não existe nenhuma moral natural, independente dos preceitos humanos, mas que ela é simplesmente um artefacto, um meio inventado para melhor dominar o egoísta e malvado género humano."

Arthur Schopenhauer

A única coisa que prestou na minha aula de Filosofia na universidade foi o debate sobre ética e moral. O debate é tri louco, deixa o sujeito piradinho, mas como disse nosso amigo Schopenhauer, no que eu concordo com ele, os valores que carregamos não são nossos propriamente ditos, como acontece com nossos instintos, como a ereção, por exemplo. O nosso caráter é adquirido a partir daquilo que vivemos e, portanto, todos os preceitos morais, a constituição, as religiões são fruto dos valores que a sociedade considera como aceitos para aquela época. Obviamente estes valores mudam com o passar dos séculos e são encarados de maneira diferente de sujeito para sujeito.

No Jornalismo, a gente esbarra em valores morais o tempo todo. Ontem mesmo passei por uma situação destas no trabalho. Não vou abrir o assunto por ser de economia interna e porque a reportagem sobre o fato que ocasionou o debate ainda não foi publicada – estou exercendo um valor moral meu, hehe. Mas basicamente o debate se concentrou na dignidade humana. Mas o que é indigno pra mim não o é pra o colega do lado. Bem, gosto de pensar, copiando na cara dura algo que li há pouco tempo, que a dignidade humana não será o modo ético como o ser humano ver-se a si próprio? Em resumo, o que não quero pra mim ou pros meus, não quero para o próximo.

Por mais que existam códigos de ética, leis e o escambau há situações nas quais um jornalista coloca em xeque os seus valores. Nesta hora recomendo o bom senso. O problema é quando o bom senso de um entra em choque com o bom senso do outro. Daí meu filho, exercite o seu poder de retórica para dormir em paz com a sua consciência, mesmo que ela seja fabricada.

Por Ermilo Drews

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Luxúria

"Entregou-se tanto ao vício da luxúria
que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer,
para cancelar a censura que merecia."

Dante Alighieri, em Inferno

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Puta literária

Sim meu querido, único e solitário leitor, me entreguei às teias do capitalismo. Virei uma puta das letras. Agora só escrevo se pagarem. Promiscuidade pura. Não importa o quê nem pra quem. Entrando no caixa é o que importa. Este, talvez, seja o principal motivo do meu afastamento. Embestei de que preciso ganhar dinheiro e para isso vale tudo, exceto dar a bunda. Esse tipo de coisa só se faz depois do primeiro exame de próstata.

Pois bem, neste período de afastamento fiz coisas aparentemente absurdas. Acredite quem quiser, mas cometi o maior sacrilégio que um homem, de carne, osso e brio pode fazer. Eu CASEI. Sim, casei, com direito a padre, noiva, aliança e bolo. Talvez por isso tenha embestado em ficar rico...

Mas também estou prestes a concretizar outra proeza de um homem macho. Não, não se trata de emprenhar minha Lê. Estou escrevendo um livro. Um livro encomendado, afinal já disse que virei a puta das letras. Agora só falta mesmo plantar um pé de bananeira e embuchar a nega véia para me tornar um Homem com H maiúsculo.

E nesta orgia neoliberal literária reneguei minha paixão. Virei uma puta letrada profissional. Perdi um dos principais motivos que me fazem abrir os olhos todas as manhãs: o prazer pelo ofício. A vontade se foi e eu endureci. Não seu safado, não se trata de uma ereção. Eu me tornei uma pessoa dura, pragmática e sem paciência para fazer aquilo que sempre foi o tesão da minha alma: escrever. Simplesmente cansei.

Tornei-me um burocrata da vida. Um servidor público. Um tecnocrata. Tudo aquilo que me revirava o estômago tornou-se minha rotina. Quando era adolescente pensava que seria adulto quando tivesse uma carteira cheia de cartões. Hoje adulto percebo que a gente perde a graça quando inventa um monte de reuniões e obrigações. A gente se torna duro, com outros e, principalmente, consigo.

O meu retorno a você, meu querido, único e solitário leitor é tão vil quando minha promiscuidade literária. Precisava desabafar. Não existe cerveja suficiente para acalmar um cérebro apressado e um coração triste. Cansei. A gente cansa de ser o que é, e não precisa ser adolescente para sentir isso. Cansei de ser uma pessoa dura, pragmática, sem fé. Enchi o saco de gente assim. Espero que esse retorno seja um recomeço.

Eu preciso de um recomeço.

Por Ermilo Drews