domingo, 22 de agosto de 2010

Congresso Nacional dos Jornalistas IV

"Analisar e projetar, isso é jornalismo."

Antônio Hohlfeldt, jornalista, escritor e professor universitário

Congresso Nacional dos Jornalistas III

“Uma das principais prerrogativas do repórter é interferir naquilo que vai estar na agenda. E para fazer isso sem ser vaquinha de presépio é preciso ter uma base teórica forte.”

Marcelo Canellas, repórter da Rede Globo há mais de duas décadas

Congresso Nacional dos Jornalistas II

“Sou de um tempo em que o jornalista era boêmio e tinha amigos importantes para conseguir um bom emprego.”

Lucildo Castelo Branco, 84 anos, três pontes de safena, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e da Federação Nacional dos Jornalistas, em 1965, "pior período para alguém ser presidente de alguma coisa neste país".

Congresso Nacional dos Jornalistas I

“Até que ponto devemos perder nossa dignidade e convicção pelas necessidades que aparecem à nossa frente?”

Juremir Machado, professor de Jornalismo e colunista do Correio do Povo, durante o 34° Congresso Nacional de Jornalistas realizado em Porto Alegre, entre 18 e 22 de agosto.

sábado, 14 de agosto de 2010

Moça de olhos grandes e tristonhos

“Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com os teus pensamentos. Ilude as tuas inquietações, consola o teu coração, afasta para longe a tristeza: porque a tristeza matou a muitos e nela não há utilidade nenhuma.”

"Eclesiástico 30,21.23"


Ela tinha os olhos grandes e tristonhos. Ele se via naqueles olhos.

Era uma moça de olhos grandes e tristonhos. Um dia pôs-se a chorar e não parou mais. Ia telefonar, chorando. No almoço, as lágrimas temperavam a salada. No chuveiro se misturavam entre milhares de gotas. Ele tentava descobrir o motivo de tanto choro. Seria pela falta de um amor? Um amor perdido? Um amor não vivido? Coração partido? Quem sabe uma grande desilusão? Traição?

Nada, nenhuma resposta. Só soluços.

Partiu então para algo mais palpável. Poderia ser alguns quilos a mais? Uma espinha no nariz? Um sorriso infeliz? Ou quem sabe um chefe tirano? Uma mãe opressora? Um parceiro ausente? Um filho doente? Um amigo descontente?

Querendo respostas, um dia ele perdeu a paciência, pegou-a pelos ombros e perguntou:
- Me dá um motivo?
Como resposta, soluços.

O choro daquela moça de olhos tão tristes quanto grandes o comovia, o inquietava, mas muito mais do que isso, o fazia companhia. Porque o que ela deixava aflorar ele sentia, no silêncio. Quisera ele conseguir chorar o choro daquela moça de olhos grandes e tristonhos. Mas tal qual o José, do Drummond, ele havia se tornado uma pessoa dura.

A tristeza que o embriagava tanto quanto vinho, Drummond ou música de cabaré também se tornou um vício. No começo a melancolia abria novas percepções. Mais tarde nem isso, só estava lá, como parte indelével da sua rotina. Hoje, ela o corrói.

Ele bem que tentou afogá-la com vinho, dividi-la com alguém, esquecê-la com trabalho, entendê-la com poesia e até esmurrá-la com seu próprio punho. Em vão.

E o mais triste de tudo é que ele tem a percepção de que as respostas para o choro da moça de olhos grandes e tristes e para a sua inquietação são as mesmas. Tem a sensação de que a cada esquina o elixir para transformar as suas vidas estará resplandecente, à mostra dos seus olhos. O problema é que a moça dos olhos grandes e tristonhos e ele são míopes. Ela segue chorando. Ele segue em silêncio.

Por Ermilo Drews

* Da série Velhas Crônicas