sábado, 18 de setembro de 2010

Jornal Já

Criado o movimento em apoio ao Jornal JÁ de Porto Alegre

Um público de 50 pessoas composto por jornalistas e representantes de entidades sindicais e da sociedade civil se reuniu na manhã de sábado, 11 de setembro, em apoio ao Jornal JÁ de Porto Alegre, cuja saúde financeira está ameaçada por uma indenização de100 mil reais cobrada judicialmente pela família Rigotto.

Na mesma sala da Associação Riograndense de Imprensa onde, em agosto de 1974, foi realizada a assembléia de fundação da CooJornal - iniciativa que entrou para a história do Jornalismo e que foi um modelo de organização em plena ditadura militar - foi fundado o Movimento Resistência JÁ, cujo objetivo é impedir a extinção do veículo comunitário de 25 anos.

"A situação que vive o JÁ atualmente guarda muitas semelhanças com a forma que terminou a CooJornal. No mínimo, conta também com o amplo silêncio da mídia", criticou o diretor da JÁ Editores e editor do JÁ, Elmar Bones. O Jornal JÁ foi condenado pela Justiça a pagar uma indenização de 100 mil reais à viúva Julieta Vargas Rigotto, mãe do ex-governador do Rio Grande do Sul e atual candidato ao Senado pelo PMDB, Germano Rigotto.

O motivo da ação é uma reportagem publicada em 2001 - vencedora do Prêmio ARI de Jornalismo daquele ano - que resgata documentos e aponta o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão do ex-governador gaúcho, em uma fraude que desviou cerca de 800 milhões de reais, em valores atualizados, da antiga CEEE.

"Germano Rigotto tenta se isentar dos problemas que nos causa essa ação. Mas a verdade é que sofremos um tremendo efeito político com essa condenação, pois é a família de um ex-governador que está processando um jornal. Não conseguimos anúncios, pois as grandes agências não querem se indispor", revelou Bones.

Sentenças contraditórias marcam o processo

Elmar Bones chamou atenção para o fato de que a própria Justiça havia considerado improcedentes as acusações pretendidas pela família Rigotto em um processo análogo. Julieta Vargas Rigotto ajuizou duas ações, uma penal contra o jornalista e outra, cível, contra a editora responsável pelo jornal.

Apesar de o conteúdo de ambas ser idêntico, Elmar Bones foi absolvido porque, segundo a juíza Isabel de Borba Lucas, "não se afastou da linha narrativa e teve por finalidade o interesse público, não agindo com intenção de ofender a honra do falecido Lindomar Vargas Rigotto". Entretanto, a editora foi condenada.

"Não acho justo pagar a indenização - ainda que na época tivéssemos dinheiro para isso. Mas trata-se de uma matéria correta, bem apurada e que teve como motivação o interesse público no assunto", protesta o diretor do JÁ. Em agosto, a Justiça determinou a presença de um interventor na redação do JÁ para garantir o repasse de uma verba mensal à viúva. E, mais recentemente, bloqueou as contas correntes dos dois sócios da editora - Elmar Bones e Kenny Braga.

Matéria apontou a maior fraude da história gaúcha

A matéria em questão parte do assassinato de Lindomar, em fevereiro de 1999, quando saía da boate Ibiza na praia de Atlântida, da qual era sócio, após contar a féria da última noite de Carnaval. Dois meses antes de ser assassinado, havia sido indiciado pela morte de uma garota de programa que caiu da janela de seu apartamento na rua Duque de Caxias, no Centro de Porto Alegre. O empresário da noite também estava com seus bens declarados indisponíveis pela Justiça por ser suspeito de desviar verbas públicas. Foi esse processo que o jornal JÁ resgatou na matéria, fruto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembléia Legislativa e de uma investigação conduzida pelo Ministério Público.

Lindomar foi considerado o protagonista de um desvio de cerca de 800 milhões de reais da CEEE, através do direcionamento de uma licitação. Segundo o depoimento à CPI do secretário de Minas e Energia do governo Pedro Simom, do PMDB, Alcides Saldanha, o cargo que Lindomar ocupava na estatal de energia havia sido criado sob medida para ele, por pressão do então líder governista na Assembléia, Germano Rigotto.

O processo que derivou dessas investigações vai completar 15 anos em fevereiro, e está em segredo de Justiça, embora tenha sido gerado a partir de uma ação civil pública.

Movimento Resistência JÁ cria duas frentes de atuação

O movimento em apoio ao Jornal JÁ definiu duas frentes prioritárias de ação para os próximos dias. A primeira é ampliar ao máximo a divulgação dos fatos, e a segunda é buscar recursos emergenciais para garantir a circulação da próxima edição do jornal.

Aqueles que tiverem interesse em integrar-se ao grupo ou que desejarem receber informações sobre o caso podem escrever para comite.resistenciaja@gmail.com. Também é possível entrar em contato com a redação do Jornal JÁ a través do telefone 3330-7272.

Postado no site dos Jornalistas do RS.

domingo, 22 de agosto de 2010

Congresso Nacional dos Jornalistas IV

"Analisar e projetar, isso é jornalismo."

Antônio Hohlfeldt, jornalista, escritor e professor universitário

Congresso Nacional dos Jornalistas III

“Uma das principais prerrogativas do repórter é interferir naquilo que vai estar na agenda. E para fazer isso sem ser vaquinha de presépio é preciso ter uma base teórica forte.”

Marcelo Canellas, repórter da Rede Globo há mais de duas décadas

Congresso Nacional dos Jornalistas II

“Sou de um tempo em que o jornalista era boêmio e tinha amigos importantes para conseguir um bom emprego.”

Lucildo Castelo Branco, 84 anos, três pontes de safena, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e da Federação Nacional dos Jornalistas, em 1965, "pior período para alguém ser presidente de alguma coisa neste país".

Congresso Nacional dos Jornalistas I

“Até que ponto devemos perder nossa dignidade e convicção pelas necessidades que aparecem à nossa frente?”

Juremir Machado, professor de Jornalismo e colunista do Correio do Povo, durante o 34° Congresso Nacional de Jornalistas realizado em Porto Alegre, entre 18 e 22 de agosto.

sábado, 14 de agosto de 2010

Moça de olhos grandes e tristonhos

“Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com os teus pensamentos. Ilude as tuas inquietações, consola o teu coração, afasta para longe a tristeza: porque a tristeza matou a muitos e nela não há utilidade nenhuma.”

"Eclesiástico 30,21.23"


Ela tinha os olhos grandes e tristonhos. Ele se via naqueles olhos.

Era uma moça de olhos grandes e tristonhos. Um dia pôs-se a chorar e não parou mais. Ia telefonar, chorando. No almoço, as lágrimas temperavam a salada. No chuveiro se misturavam entre milhares de gotas. Ele tentava descobrir o motivo de tanto choro. Seria pela falta de um amor? Um amor perdido? Um amor não vivido? Coração partido? Quem sabe uma grande desilusão? Traição?

Nada, nenhuma resposta. Só soluços.

Partiu então para algo mais palpável. Poderia ser alguns quilos a mais? Uma espinha no nariz? Um sorriso infeliz? Ou quem sabe um chefe tirano? Uma mãe opressora? Um parceiro ausente? Um filho doente? Um amigo descontente?

Querendo respostas, um dia ele perdeu a paciência, pegou-a pelos ombros e perguntou:
- Me dá um motivo?
Como resposta, soluços.

O choro daquela moça de olhos tão tristes quanto grandes o comovia, o inquietava, mas muito mais do que isso, o fazia companhia. Porque o que ela deixava aflorar ele sentia, no silêncio. Quisera ele conseguir chorar o choro daquela moça de olhos grandes e tristonhos. Mas tal qual o José, do Drummond, ele havia se tornado uma pessoa dura.

A tristeza que o embriagava tanto quanto vinho, Drummond ou música de cabaré também se tornou um vício. No começo a melancolia abria novas percepções. Mais tarde nem isso, só estava lá, como parte indelével da sua rotina. Hoje, ela o corrói.

Ele bem que tentou afogá-la com vinho, dividi-la com alguém, esquecê-la com trabalho, entendê-la com poesia e até esmurrá-la com seu próprio punho. Em vão.

E o mais triste de tudo é que ele tem a percepção de que as respostas para o choro da moça de olhos grandes e tristes e para a sua inquietação são as mesmas. Tem a sensação de que a cada esquina o elixir para transformar as suas vidas estará resplandecente, à mostra dos seus olhos. O problema é que a moça dos olhos grandes e tristonhos e ele são míopes. Ela segue chorando. Ele segue em silêncio.

Por Ermilo Drews

* Da série Velhas Crônicas

sábado, 24 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sábado, 10 de julho de 2010

Os Nossos Erros e o Nosso Destino

"Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada."

Alexander Puschkine

Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!

Elisa Lucinda

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sobrevivente

“Sou um sobrevivente num tempo de mudanças, dentre as quais nem todas são boas. Sou um sobrevivente por ter conseguido manter alguns valores éticos. Venho de um tempo anterior e sou alguém que mantém uma coerência em relação aos princípios pelos quais sempre orientou-se.”

José Saramago

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Manifesto do perdão

Nos últimos tempos comecei a ouvir com maior incidência frases como: “estou te achando mais burro ultimamente. Burro de ignorante”, “você é um grosso mesmo”, “não adianta falar contigo”, “é sempre a mesma coisa”, “você nunca aprende”, “estou decepcionada contigo”.

Obviamente a maioria destas sentenças é justificada, em muitos dos casos, pelos meus erros costumeiros. Respostas ríspidas desnecessárias, julgamentos precipitados, preguiça em excesso, egocentrismo e intolerância estão entre os erros costumeiros deste vivente. O resultado: as pessoas se decepcionam, algumas choram e muitas me “chineleiam.”

A todos que, de uma ou outra forma, foram alvos das minhas injustiças remeto um sincero pedido de perdão. Vocês não mereciam.

sábado, 3 de julho de 2010

O futebol e o Saramago ensinam

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas."

José Saramago

sábado, 1 de maio de 2010

Entropia, Pensamento Acelerado e Jornalismo

Está lá no dicionário que entropia significa falência ou morte do sistema. Outro conceito detalha que é uma medida do grau de desorganização que pode levar à falência de um sistema. Pois garanto: sou um entropiado.

Sempre fui um sujeito desorganizado. Quando se é criança, calçado fora do lugar, cueca atirada embaixo do chuveiro, casaco sobre o sofá, tudo isso é natural. O problema é quando isso vira rotina na vida adulta e, torna-se grave mesmo, quando piora. Quem conhece a minha pilha de louça para lavar, sabe bem do que estou falando.

Mas o meu grau de desorganização pode ser conferido pela minha mesa de trabalho. Ontem, mesmo, um colega teve que empilhar meia tonelada de papel para encontrar um celular soterrado pela minha pequena montanha de entulho. Semelhante ao que vivi durante os quatro meses que tive que escrever minha monografia, no nem tão distante ano de 2004. No centro da escrivaninha: o computador e eu. Ao redor: pilhas e pilhas de rascunhos, citações, livros, comida, água...

E o meu grau de desorganização não se resume a pilhas de papel. Sempre escrevo as minhas entrevistas em um arquivo, inicio o texto em outro, termino em outro documento e, por último, salvo num outro. Nesta peregrinação devo ter dezenas de milhares de arquivos de texto no meu computador. E a quantidade de janelas abertas ao mesmo tempo? Parece até que acessei um site pornográfico. É janela pra tudo quanto é lado. Com tanta informação circulando, falta espaço no meu cérebro para coisas mundanas, como saber o lugar onde deixei a chave de casa – já perdi umas cinco vezes o molho de chaves.

Os meus colegas e a minha mulher acham que é coisa de porco, desleixo, mas juro que não é. A minha desorganização é fruto da minha entropia cerebral. Durante um segundo chego a pensar três coisas ao mesmo tempo – também, tem gente que me tira pra oráculo. A minha mãe até chegou a pesquisar no Grão Mestre Google, que garante se tratar da Síndrome do Pensamento Acelerado, comum a jornalistas, escritores e gente do tipo.

Os sintomas da tal síndrome: irritabilidade, insatisfação existencial, dificuldade de concentração, déficit de memória, fadiga excessiva, sono alterado, dificuldade de extrair prazer nos estímulos da rotina diária, sentimento de insuficiência. Mas sou eu, minha gente!

O tratamento recomendado para que eu não permita a falência do meu sistema cerebral é a mudança do estilo de vida. Em resumo: mudar de profissão.

É, não vai ter jeito, meu cérebro vai fundir aos 40 anos mesmo.

Por Ermilo Drews

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A moral da minha mulher

Seguindo o debate sobre moral, meu caro. Quer um exemplo prático sobre como é difícil lidar com as diferenças de valores entre os sujeitos. Pois bem, ontem no final do expediente tive a infeliz ideia de tomar UMA cerveja com um colega de trabalho. Pensei cá com meus botões: não vou avisar a Lê. É só uma cerveja. Se eu avisar, ela vai me encher.

Mas nem bem havia esquentado a cadeia do bar e o destino me pregou uma peça. Toca o celular e eu:

- Fudeu - era minha muler.

Bem, fiz o que qualquer homem macho com juízo, casado com uma mulher facão sem cabo, faria: menti. Levantei da cadeira e procurei um lugarzinho bem calmo pra mentir.

- Oi, Lê. Estou saindo agora do jornal e vou tomar uma cerveja com o Paulinho. Não quer chegar aqui no bar ao lado do jornal?

Ela:

- Está saindo agora!? Pois eu estou te vendo há uns bons minutos parado aí no boteco. Seu mentiroso, @*XJSJDJDjh, ISUI*&@%$X...

Viram! Para mim uma mentirinha não tem o peso que tem para a minha mulher facão sem cabo. São por estas diferenças e pela intolerância diante delas que as guerras acontecem!

Por Ermilo Drews

Ética, moral e Jornalismo

"Talvez um olhar retrospectivo nos mais de dois mil anos passados na inútil tentativa de encontrar um fundamento sólido para a moral nos leve a pensar que não existe nenhuma moral natural, independente dos preceitos humanos, mas que ela é simplesmente um artefacto, um meio inventado para melhor dominar o egoísta e malvado género humano."

Arthur Schopenhauer

A única coisa que prestou na minha aula de Filosofia na universidade foi o debate sobre ética e moral. O debate é tri louco, deixa o sujeito piradinho, mas como disse nosso amigo Schopenhauer, no que eu concordo com ele, os valores que carregamos não são nossos propriamente ditos, como acontece com nossos instintos, como a ereção, por exemplo. O nosso caráter é adquirido a partir daquilo que vivemos e, portanto, todos os preceitos morais, a constituição, as religiões são fruto dos valores que a sociedade considera como aceitos para aquela época. Obviamente estes valores mudam com o passar dos séculos e são encarados de maneira diferente de sujeito para sujeito.

No Jornalismo, a gente esbarra em valores morais o tempo todo. Ontem mesmo passei por uma situação destas no trabalho. Não vou abrir o assunto por ser de economia interna e porque a reportagem sobre o fato que ocasionou o debate ainda não foi publicada – estou exercendo um valor moral meu, hehe. Mas basicamente o debate se concentrou na dignidade humana. Mas o que é indigno pra mim não o é pra o colega do lado. Bem, gosto de pensar, copiando na cara dura algo que li há pouco tempo, que a dignidade humana não será o modo ético como o ser humano ver-se a si próprio? Em resumo, o que não quero pra mim ou pros meus, não quero para o próximo.

Por mais que existam códigos de ética, leis e o escambau há situações nas quais um jornalista coloca em xeque os seus valores. Nesta hora recomendo o bom senso. O problema é quando o bom senso de um entra em choque com o bom senso do outro. Daí meu filho, exercite o seu poder de retórica para dormir em paz com a sua consciência, mesmo que ela seja fabricada.

Por Ermilo Drews

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Luxúria

"Entregou-se tanto ao vício da luxúria
que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer,
para cancelar a censura que merecia."

Dante Alighieri, em Inferno

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Puta literária

Sim meu querido, único e solitário leitor, me entreguei às teias do capitalismo. Virei uma puta das letras. Agora só escrevo se pagarem. Promiscuidade pura. Não importa o quê nem pra quem. Entrando no caixa é o que importa. Este, talvez, seja o principal motivo do meu afastamento. Embestei de que preciso ganhar dinheiro e para isso vale tudo, exceto dar a bunda. Esse tipo de coisa só se faz depois do primeiro exame de próstata.

Pois bem, neste período de afastamento fiz coisas aparentemente absurdas. Acredite quem quiser, mas cometi o maior sacrilégio que um homem, de carne, osso e brio pode fazer. Eu CASEI. Sim, casei, com direito a padre, noiva, aliança e bolo. Talvez por isso tenha embestado em ficar rico...

Mas também estou prestes a concretizar outra proeza de um homem macho. Não, não se trata de emprenhar minha Lê. Estou escrevendo um livro. Um livro encomendado, afinal já disse que virei a puta das letras. Agora só falta mesmo plantar um pé de bananeira e embuchar a nega véia para me tornar um Homem com H maiúsculo.

E nesta orgia neoliberal literária reneguei minha paixão. Virei uma puta letrada profissional. Perdi um dos principais motivos que me fazem abrir os olhos todas as manhãs: o prazer pelo ofício. A vontade se foi e eu endureci. Não seu safado, não se trata de uma ereção. Eu me tornei uma pessoa dura, pragmática e sem paciência para fazer aquilo que sempre foi o tesão da minha alma: escrever. Simplesmente cansei.

Tornei-me um burocrata da vida. Um servidor público. Um tecnocrata. Tudo aquilo que me revirava o estômago tornou-se minha rotina. Quando era adolescente pensava que seria adulto quando tivesse uma carteira cheia de cartões. Hoje adulto percebo que a gente perde a graça quando inventa um monte de reuniões e obrigações. A gente se torna duro, com outros e, principalmente, consigo.

O meu retorno a você, meu querido, único e solitário leitor é tão vil quando minha promiscuidade literária. Precisava desabafar. Não existe cerveja suficiente para acalmar um cérebro apressado e um coração triste. Cansei. A gente cansa de ser o que é, e não precisa ser adolescente para sentir isso. Cansei de ser uma pessoa dura, pragmática, sem fé. Enchi o saco de gente assim. Espero que esse retorno seja um recomeço.

Eu preciso de um recomeço.

Por Ermilo Drews

sábado, 13 de março de 2010

Culpa III

O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros.

Confúcio

Culpa II

Para os que não conseguem governar a própria casa nem os povos, uma boa desculpa é dizer que estes são ingovernáveis.

Benavente y Martinez

Culpa

Não há culpa maior / do que entregar-se às vontades / não há mal maior / do que aquele de não saber contentar-se / não há dano maior / do que nutrir o desejo de conquista.

Lao-Tsé