sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Será que eu sou?

Em tempos de união estável, resolvi compartilhar um “dilema” da minha existência. É uma dúvida que me atormenta desde a adolescência. Será que eu sou? Pois entendam. Não dizem que homem gosta de falar de carro, tem pêlos e coça as partes. Pelo menos no meu tempo de colégio era assim. Eu só conhecia Fusca, fui ter meu primeiro pêlo nas axilas com quase 15 (até hoje não preciso fazer a barba) e não costumava ter coceira lá. Mas não me interpretem mal. Também nunca tive coceira na próstata.

O que quero dizer é que eu não sou um homem com H, como canta o Ney Mato Grosso. Todo moleque que se preze sabe nadar, jogar bola e trovar as meninas. Se bobear eu me afogo em piscina de três mil litros. Sou um asmático perna de pau e quem me agarrou foi a minha mulher. Tá ruim!? Pois piora.

Quer me ver suar nas mãos é me obrigar a fazer uma baliza. Se preciso dirigir pelo Centro de Lajeado o coração dispara. Isso é coisa de homem? A motorista da família é a minha mulher! Coitado do meu pai com um filho destes. Outras coisas que homens com H fazem e eu não. Trocar resistência de chuveiro. É fácil, né? Pois eu preciso desembolsar R$ 30 para tomar banho quente. Nem sei pegar uma furadeira na mão. E calibrar os pneus do carro? Cano entupido? Chama a Letícia.

Aqui no jornal sou motivo de piada. A mulherada grita: “Alguém precisa trocar a bombona d’água. Um homem, por favor?” Eu me escondo. Vá que derrube aquele trambolho no chão. Trocar bombona d’água é coisa de homem com H.

Por outro lado, faço coisas de meninas. Aprendi na escola a tricotar, gosto de cozinhar e até ler poesia. Sou fã do Carlos Drummond de Andrade. Lá em casa, quem faz compras sou eu. Quem lava a louça sou eu. E confesso. Curto Lady Gaga... Diante de tudo isso, bolei uma teoria de que além de heterossexual, bissexual e homossexual, existe o homossexual assexuado. No bom português: um gay que não dorme de conchinha com outro homem. Eu me enquadraria perfeitamente nesta categoria, mas gosto de dormir de conchinha com a minha mulher, de fazer churrasco e de beber vendo jogo de futebol – coisas legítimas de homem com H. É, pensando melhor, acho que sou um heterossexual abichornado.

Por Ermilo Drews

sábado, 18 de setembro de 2010

Jornal Já

Criado o movimento em apoio ao Jornal JÁ de Porto Alegre

Um público de 50 pessoas composto por jornalistas e representantes de entidades sindicais e da sociedade civil se reuniu na manhã de sábado, 11 de setembro, em apoio ao Jornal JÁ de Porto Alegre, cuja saúde financeira está ameaçada por uma indenização de100 mil reais cobrada judicialmente pela família Rigotto.

Na mesma sala da Associação Riograndense de Imprensa onde, em agosto de 1974, foi realizada a assembléia de fundação da CooJornal - iniciativa que entrou para a história do Jornalismo e que foi um modelo de organização em plena ditadura militar - foi fundado o Movimento Resistência JÁ, cujo objetivo é impedir a extinção do veículo comunitário de 25 anos.

"A situação que vive o JÁ atualmente guarda muitas semelhanças com a forma que terminou a CooJornal. No mínimo, conta também com o amplo silêncio da mídia", criticou o diretor da JÁ Editores e editor do JÁ, Elmar Bones. O Jornal JÁ foi condenado pela Justiça a pagar uma indenização de 100 mil reais à viúva Julieta Vargas Rigotto, mãe do ex-governador do Rio Grande do Sul e atual candidato ao Senado pelo PMDB, Germano Rigotto.

O motivo da ação é uma reportagem publicada em 2001 - vencedora do Prêmio ARI de Jornalismo daquele ano - que resgata documentos e aponta o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão do ex-governador gaúcho, em uma fraude que desviou cerca de 800 milhões de reais, em valores atualizados, da antiga CEEE.

"Germano Rigotto tenta se isentar dos problemas que nos causa essa ação. Mas a verdade é que sofremos um tremendo efeito político com essa condenação, pois é a família de um ex-governador que está processando um jornal. Não conseguimos anúncios, pois as grandes agências não querem se indispor", revelou Bones.

Sentenças contraditórias marcam o processo

Elmar Bones chamou atenção para o fato de que a própria Justiça havia considerado improcedentes as acusações pretendidas pela família Rigotto em um processo análogo. Julieta Vargas Rigotto ajuizou duas ações, uma penal contra o jornalista e outra, cível, contra a editora responsável pelo jornal.

Apesar de o conteúdo de ambas ser idêntico, Elmar Bones foi absolvido porque, segundo a juíza Isabel de Borba Lucas, "não se afastou da linha narrativa e teve por finalidade o interesse público, não agindo com intenção de ofender a honra do falecido Lindomar Vargas Rigotto". Entretanto, a editora foi condenada.

"Não acho justo pagar a indenização - ainda que na época tivéssemos dinheiro para isso. Mas trata-se de uma matéria correta, bem apurada e que teve como motivação o interesse público no assunto", protesta o diretor do JÁ. Em agosto, a Justiça determinou a presença de um interventor na redação do JÁ para garantir o repasse de uma verba mensal à viúva. E, mais recentemente, bloqueou as contas correntes dos dois sócios da editora - Elmar Bones e Kenny Braga.

Matéria apontou a maior fraude da história gaúcha

A matéria em questão parte do assassinato de Lindomar, em fevereiro de 1999, quando saía da boate Ibiza na praia de Atlântida, da qual era sócio, após contar a féria da última noite de Carnaval. Dois meses antes de ser assassinado, havia sido indiciado pela morte de uma garota de programa que caiu da janela de seu apartamento na rua Duque de Caxias, no Centro de Porto Alegre. O empresário da noite também estava com seus bens declarados indisponíveis pela Justiça por ser suspeito de desviar verbas públicas. Foi esse processo que o jornal JÁ resgatou na matéria, fruto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembléia Legislativa e de uma investigação conduzida pelo Ministério Público.

Lindomar foi considerado o protagonista de um desvio de cerca de 800 milhões de reais da CEEE, através do direcionamento de uma licitação. Segundo o depoimento à CPI do secretário de Minas e Energia do governo Pedro Simom, do PMDB, Alcides Saldanha, o cargo que Lindomar ocupava na estatal de energia havia sido criado sob medida para ele, por pressão do então líder governista na Assembléia, Germano Rigotto.

O processo que derivou dessas investigações vai completar 15 anos em fevereiro, e está em segredo de Justiça, embora tenha sido gerado a partir de uma ação civil pública.

Movimento Resistência JÁ cria duas frentes de atuação

O movimento em apoio ao Jornal JÁ definiu duas frentes prioritárias de ação para os próximos dias. A primeira é ampliar ao máximo a divulgação dos fatos, e a segunda é buscar recursos emergenciais para garantir a circulação da próxima edição do jornal.

Aqueles que tiverem interesse em integrar-se ao grupo ou que desejarem receber informações sobre o caso podem escrever para comite.resistenciaja@gmail.com. Também é possível entrar em contato com a redação do Jornal JÁ a través do telefone 3330-7272.

Postado no site dos Jornalistas do RS.

domingo, 22 de agosto de 2010

Congresso Nacional dos Jornalistas IV

"Analisar e projetar, isso é jornalismo."

Antônio Hohlfeldt, jornalista, escritor e professor universitário

Congresso Nacional dos Jornalistas III

“Uma das principais prerrogativas do repórter é interferir naquilo que vai estar na agenda. E para fazer isso sem ser vaquinha de presépio é preciso ter uma base teórica forte.”

Marcelo Canellas, repórter da Rede Globo há mais de duas décadas

Congresso Nacional dos Jornalistas II

“Sou de um tempo em que o jornalista era boêmio e tinha amigos importantes para conseguir um bom emprego.”

Lucildo Castelo Branco, 84 anos, três pontes de safena, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e da Federação Nacional dos Jornalistas, em 1965, "pior período para alguém ser presidente de alguma coisa neste país".

Congresso Nacional dos Jornalistas I

“Até que ponto devemos perder nossa dignidade e convicção pelas necessidades que aparecem à nossa frente?”

Juremir Machado, professor de Jornalismo e colunista do Correio do Povo, durante o 34° Congresso Nacional de Jornalistas realizado em Porto Alegre, entre 18 e 22 de agosto.

sábado, 14 de agosto de 2010

Moça de olhos grandes e tristonhos

“Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com os teus pensamentos. Ilude as tuas inquietações, consola o teu coração, afasta para longe a tristeza: porque a tristeza matou a muitos e nela não há utilidade nenhuma.”

"Eclesiástico 30,21.23"


Ela tinha os olhos grandes e tristonhos. Ele se via naqueles olhos.

Era uma moça de olhos grandes e tristonhos. Um dia pôs-se a chorar e não parou mais. Ia telefonar, chorando. No almoço, as lágrimas temperavam a salada. No chuveiro se misturavam entre milhares de gotas. Ele tentava descobrir o motivo de tanto choro. Seria pela falta de um amor? Um amor perdido? Um amor não vivido? Coração partido? Quem sabe uma grande desilusão? Traição?

Nada, nenhuma resposta. Só soluços.

Partiu então para algo mais palpável. Poderia ser alguns quilos a mais? Uma espinha no nariz? Um sorriso infeliz? Ou quem sabe um chefe tirano? Uma mãe opressora? Um parceiro ausente? Um filho doente? Um amigo descontente?

Querendo respostas, um dia ele perdeu a paciência, pegou-a pelos ombros e perguntou:
- Me dá um motivo?
Como resposta, soluços.

O choro daquela moça de olhos tão tristes quanto grandes o comovia, o inquietava, mas muito mais do que isso, o fazia companhia. Porque o que ela deixava aflorar ele sentia, no silêncio. Quisera ele conseguir chorar o choro daquela moça de olhos grandes e tristonhos. Mas tal qual o José, do Drummond, ele havia se tornado uma pessoa dura.

A tristeza que o embriagava tanto quanto vinho, Drummond ou música de cabaré também se tornou um vício. No começo a melancolia abria novas percepções. Mais tarde nem isso, só estava lá, como parte indelével da sua rotina. Hoje, ela o corrói.

Ele bem que tentou afogá-la com vinho, dividi-la com alguém, esquecê-la com trabalho, entendê-la com poesia e até esmurrá-la com seu próprio punho. Em vão.

E o mais triste de tudo é que ele tem a percepção de que as respostas para o choro da moça de olhos grandes e tristes e para a sua inquietação são as mesmas. Tem a sensação de que a cada esquina o elixir para transformar as suas vidas estará resplandecente, à mostra dos seus olhos. O problema é que a moça dos olhos grandes e tristonhos e ele são míopes. Ela segue chorando. Ele segue em silêncio.

Por Ermilo Drews

* Da série Velhas Crônicas