quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um estranho no ninho

“Deixe-me ir/Preciso andar/Vou por aí a procurar/Rir pra não chorar/Se alguém por mim perguntar/Diga que eu só vou voltar/Depois que me encontrar...”

As ruas e suas esquinas, as casas e seus objetos têm alma. Experimente deixar a cidade onde você cresceu e voltar. Você vai saber do que falo. Em cada ruela habita uma lembrança da sua trajetória. Em cada objeto, uma história.

Morei 21 anos em Cachoeira do Sul, a 150 quilômetros de Lajeado. Portanto, é natural que sinta esta nostalgia cada vez que vou para lá. Aqui, apesar de saber de cor e salteado o mosaico de ruas e avenidas, por causa da minha atividade no jornal, não é a mesma coisa. Aqui, para mim, as ruas são apenas ruas. Se esta relação com as coisas já é diferente, imagina com as pessoas.

Mas de uns tempos pra cá, nem lá me sinto em casa. A distância, aliada ao tempo, faz a gente perder um fator indispensável para se sentir em casa: a intimidade. Não raro me sinto um peixe fora d’água com meus amigos. Nas conversas corriqueiras, aquelas sobre o dia-a-dia, sou um ouvinte. Resta falar sobre a crise internacional, futebol, planos para o futuro ou relembrar.
Na minha casa a situação não é muito diferente. Meus irmãos cresceram nestes quatro anos que estou fora. Meus pais envelheceram.

O beliche que dividia com meu irmão virou uma cama de casal. Sobrou um colchão para mim. A distribuição dos objetos mudou de uma hora para outra. As coisas mudaram. As pessoas mudaram. Eu mudei.

O meu roupeiro foi “invadido” por peças “alienígenas”. Quando vou para lá minhas roupas permanecem dentro da mala. Me sinto um turista na casa onde cresci. Vivo a crise dos 20 e poucos anos.

* Da série Velhas Crônicas

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