quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eles podem matar

Desde a adolescência achei que lidava bem sob pressão. A coitada da minha irmã estudava que se matava e na hora das provas no colégio era branco total. E eu, que sempre fui vadio pro estudo, me dava bem frente aquele leito de perguntas. Assim seguiu na faculdade, no trabalho e por aí afora. Mas um dia isso tudo mudou. Um dia eu fraquejei.

No jornal nós temos as famigeradas bombonas d’água. Aquelas grandonas, devem ter uns 20 litros, acho eu. Pois bem, uma destas monstrinhas fica pertinho de onde sento. É ela que sacia a sede de toda a redação, da arte, da diagramação e do comercial, setores que ficam no segundo andar do prédio da Rede Vale de Comunicação. Pela preguiça característica que acompanha este corpo, sempre me esquivei de ter que trocar a bombona. Mas um dia, sem nenhum outro homem para as sedentas mulheres recorrerem, tive que encarar a missão. Foi o dia em que fraquejei.

Como um halterofilista russo, peguei a adversária pela cintura, respirei fundo e fiz o movimento para tascá-la dentro do orifício que recebe a bombona. Até aí tudo lindo. Mas no momento em que você tasca a bombona no orifício não pode recuar, sob pena de provocar um pequeno tsunami. Foi o que aconteceu comigo. Ao ver o pequeno orifício ir enchendo de água, pensei “não vai dar, não vai dar”!!! E, apavorado, não deu mesmo. Me senti como minha irmã quando se ferrava nas provas, mesmo depois de tanto esforço. Pior aconteceu com um amigo e colega meu, que não satisfeito em inundar parte da redação, derrubou a bombona no chão.

O nobre leitor pode até questionar, mas vocês dois – meu amigo e eu – são uns fracotes mesmo? Mas não se trata de força. Para trocar a bombona d’água é preciso muito mais que isto. Se você visse outro colega meu, de braço mirrado, voz quase indecifrável, devido à timidez, diria: “Esse sujeito não levanta esta ‘bombonona’.” No entanto, o tal sujeito é um dos melhores trocadores de bombona do jornal.

É meu caro, mas não precisa ser Incrível Hulk para saciar a sede da mulherada. É preciso sangue frio. Diante desta descoberta formulei a seguinte teoria: Quem troca tranquilamente uma bombona d’água poderia puxar o gatilho de uma arma. Em ambos os casos é preciso uma dose grande de frieza.

Por isso, se eu pudesse lhe dar um conselho seria para tomar muito cuidado com os trocadores de bombona. Eles podem matar.

* Da série Velhas Crônicas

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