domingo, 30 de agosto de 2009

Favor não gritar gol

“Goooooooooooooooooooool”, gritava, a plenos pulmões, quando o tricolor dos pampas estufava as redes. Era assim desde a década de 30. Naquela época, ironicamente ele comemorava as defesas do goleiro Lara, o Craque Imortal. Tudo sempre acompanhado pelo radinho de pilha. Sim, naquele tempo futebol era só pelo rádio ou nas manchetes do Correio do Povo.

E foi, com o radinho de pilha, que acompanhou os 35 campeonatos gaúchos, as quatro Copa do Brasil, os dois brasileiros, as duas Libertadores e o Mundial do Renato, com dizia na prosa com os “amigos de farda”. Veio a TV preto e branco, a TV a cores, até chegar nesta tal de LCD full HD. “Quanto mais avançado o negócio, mais letras têm”, pensava. Mas independentemente dos avanços tecnológicos, o radinho sempre estava com ele, seja em casa, nos bares ou no estádio.

“No radinho sei antes”, gabava-se àqueles que o chamavam de antigo. Mas de tanto gritar ““Goooooooooooooooooooool” antes dos telespectadores, o pessoal do bar que frequentava começou a ficar com raiva daquele desaforo. “Este velho não tem simancol”, diziam os mais jovens.

Em uma tarde de sábado, lá foi ele com seu radinho ao bar a duas quadras de casa. Chegou uma hora antes, como de costume, para guardar o melhor lugar. Ligou o radinho, já sintonizado na Gaúcha, e ficou na concentração. Cinco minutos antes do começo da partida, o dono do bar pregava na parede um aviso aterrorizante. “Favor não gritar gol antes da imagem da televisão.”

Tentou argumentar que aquilo era antidemocrático, que feria a liberdade de expressão, que se voltava aos tempos do Costa e Silva. Mas o dono do bar manteve-se inflexível na sua decisão. E o pior de tudo, decisão respaldada pelos “amigos de farda”. Naquele dia triste, o velho mais triste que o dia, só pôde perguntar em voz baixa:

- “Como se segura um grito de gol?”

Ficou sem resposta.

Por Ermilo Drews

* A restrição ao grito de gol já virou norma em pelo menos um bar de Lajeado.

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